sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A teoria da verdade



 Enquanto pegava um ônibus estranho, numa cidade que não era a minha, conversava com uns amigos
sobre religião, e todo o poder que ela exerce. Dois deles eram céticos e uma pensava como eu . Durante a discussão pensei muito sobre o valor da verdade.
 Freud enquanto estudava suas histéricas chegou a uma brilhante conclusão ao dizer: "Não acredito mais nas minhas histéricas". Ele observou que muito do que era relatado por elas não havia de fato acontecido, mas isso não importava, pois apenas o fato delas acreditarem que o que diziam era real, já era o bastante para produzir os sintomas traumáticos.
Eis ai o valor da verdade.
Quando se pensa na religião, nas crenças e nas práticas religiosas, muito se critica, muito se questiona e muito se modifica. Acho que já falei algumas vezes sobre o desespero humano pela busca da verdade, mas o que é a verdade de verdade? A verdade sempre será para nós temporária, assim como para a ciência, que patenteou as verdades do mundo e nunca cansa de se contradizer (não desmerecendo a importâncias das contradições). As verdades históricas que se modificam a cada nova descoberta, as verdades religiosas que tem o papel de dar ao povo aquilo que ele precisa, as verdade políticas que deram tanta esperança ao povo, dentre outras tantas milhões de verdades.
O que se pode dizer sobre elas?
São falsas? Verdadeiras?
A verdade é que criamos a verdade que melhor convém ao nosso enredo. Como já disse algum filósofo, a partir do momento em que olhamos para um objeto, mudamos a verdade sobre ele. Se 3 pessoas diferentes olharem para uma mesma árvore, no mesmo instante, haverá 3 teorias diferentes sobre o que é uma árvore. Então qual a verdade da árvore?
Todas. Ou nenhuma.
Se João olha para a árvore e diz que ela é capaz de falar, ele pode ouvir a sua voz, e isso não fará dele um mentiroso. Assim como para uma histérica ou um esquizofrênico, a sua verdade é capaz de modificar a sua vida e atuar sobre ela, pois o que importa é o VALOR da verdade.
O que eu quero dizer é que o homem é pura prepotência quando se vê diante de uma verdade e acredita ser absoluta e universal, tão universal que quer que todos os outros humanos no universo compartilhem de sua crença. Como fazem os céticos radicais, os evangelizadores que se intitulam salvadores da humanidade perdida, dentre tantos outros que se deixam dominar pela percepção que tem do mundo.
Essa busca pela verdade crua é como descascar uma cebola, a cada camada retirada você encontra uma nova e diferente, se encanta com ela até perceber que há outra por baixo, e após remover várias camadas, chega ao miolo e percebe que não há nada lá. E a cebola se torna dezenas de camadas em suas mãos e cada uma contendo sua verdade pra contar, juntando todas elas se percebe que não é preciso existir um centro, um ponto, um Deus universal, para que tudo exista de fato. As coisas simplesmente possuem a sua verdade e as pessoas o seu poder de interpretação, elas coexistem no mesmo espaço a sua maneira de modo a serem modificadas como for mais conveniente. Não cabe a ninguém querer ser o enviado de Deus, o anjo salvador ou o sábio filósofo que levará a luz à caverna dos menos esclarecidos.
Se há uma verdade que torna as pessoas melhores em seu mundo e que as façam mais felizes, não importa que verdade seja essa.
Os céticos não acreditam num metafísico, mas não podem saber se existe ou não, simplesmente escolhem não acreditar. Larguemos essa bobagem de radicalismo e reconheçamos nossa inferioridade humana na grandeza do universo. Aceite todas as verdades e escolha a sua.
Não vale à pena enlouquecer pelo incompreensível. É bom tentar compreender, as vezes necessário, mas nunca acredite que compreendeu. Seria ingênuo demais.



                                                                                  Imagem: Alex Grey